A sociedade necessita de riqueza financeira, mas a forma que você gera essa riqueza começa a ser importante, e cada vez mais importante para as gerações mais novas.
O que vimos até hoje é que as empresas não só criaram muita riqueza, mas destruíram muita coisa também.
Como ex-produtor rural, executivo de multinacional com experiência internacional, e mais recentemente como empreendedor de sucesso e autor, ao longo dessa jornada de evangelista de uma nova economia, já palestrei para mais de cinco mil pessoas e meu TEDx sobre Capitalismo Consciente já foi visualizado mais de 200 mil vezes.
Desde a origem do capitalismo, quando o filosofo escocês Adam Smith publicou a sua obra intitulada “A Riqueza das Nações”, em 1776, deu-se um primeiro passo para explorar as ideias de que lugares com maior liberdade tendem a ser mais prósperos. O conteúdo criado por Adam Smith está diretamente associado às raízes do funcionamento do capitalismo.
No mesmo ano da publicação desse livro, por uma incrível coincidência, nasceu uma das nações mais capitalistas do mundo, os Estados Unidos, através da independência da Inglaterra. A própria constituição, por influência de Adam Smith, contém princípios alinhados com liberdade e independência. Apesar de um segmento enorme da população não ter acesso a essa liberdade (escravos, mulheres e índios nativos), ela foi estendida a todos ao longo desses 250 anos de história.
Capitalismo é liberdade política e econômica. Nasce da ideia de livres mercados e crescimento derivado de iniciativas individuais ao invés de planejadas de forma centralizada por governos, governantes ou sistemas políticos. A iniciativa privada ou individual eleva as condições de vida e alavanca a prosperidade.
Existe uma ideia de que o capitalismo gera pobreza e explora as pessoas. Há pouco mais de 200 anos, a maior parte da população vivia em pobreza absoluta, sem instrução alguma ou acesso à educação, e com a expectativa de vida ao redor dos 35 anos. Dados do Banco Mundial (World Bank) relatam que a pobreza absoluta diminuiu drasticamente ao longo das últimas três décadas. Mais da metade da população dos países em desenvolvimento vivia com menos de US$1,25 por dia em 1981, e hoje essa porcentagem é de 21%. Certamente, é muito alta para nossos padrões e expectativas, mas não há como negar a evolução desse indicador nesse período tão curto. Grande parte dessa prosperidade é devida ao capitalismo. A grande âncora da pobreza não é a distribuição desigual de renda, mas a distribuição desigual de liberdade.
O mundo está mudando constantemente e cada vez mais rápido. Qual será o modelo de sucesso para as empresas dessa nova economia que está surgindo? A ideia de que o objetivo de uma empresa é gerar lucro não serve mais para sociedade e para os consumidores. As empresas sem um propósito claro, ou uma causa para melhorar o mundo, estão preocupadas e em busca de seus grandes propósitos, pois já reconhecem o risco de perderem seus postos de liderança, assim como a garantia de sua existência no longo prazo. As mudanças dramáticas no mundo são evidentes.
Hoje existem mais linhas telefônicas ativas no mundo do que habitantes, e cada vez mais são linhas de celular; a violência é muito menor em termos de guerras ou conflitos entre nações, somando-se mais de mil nos últimos 600 anos e, desde 1945, as guerras entre nações desapareceram; o nível de inteligência é muito maior a cada dia, notamos que as crianças têm uma destreza muito maior com os equipamentos eletrônicos do que os adultos; os valores femininos estão voltando a emergir para equilibrar com os masculinos na criação de uma sociedade e lideranças mais equilibradas. A evidência disso é a quantidade de mulheres ascendendo a posições de liderança e, mais ainda, ao estudo. Alguns cursos de pós-graduação já estabelecem cotas para homens para assegurar a diversidade de gêneros, já que as mulheres estão conseguindo mais vagas do que eles.
Isso nos leva a essa nova economia, completamente diferente do capitalismo que vinha sendo praticado até agora. Esse novo capitalismo que surge é, de certa forma, mais consciente e inclusivo. Esse é o Capitalismo Consciente, que está baseado em 4 princípios:
Propósito superior: as empresas existem para gerar valor para a sociedade, e não apenas lucro. O lucro é um dos valores que a empresa precisa gerar e é exclusivo para o acionista. De acordo com Ed Freeman, “assim com o corpo humano precisa de glóbulos vermelhos para sobreviver, não significa que o propósito da nossa vida é produzir glóbulos vermelhos”. O mesmo é válido para as empresas que precisam do lucro para sobreviver, investir e crescer.
Integração das partes interessadas (ou stakeholders): é o abandono do modelo operacional da barganha do trade-off em busca de uma maior quantidade de valores gerados das relações com cada um dos stakeholders. São relações que vão além da simples e exclusiva troca utilitária de serviço ou produto ou trabalho por dinheiro. Não conheço, ainda, nenhuma empresa que tem como estratégia fornecer para empresas em concordata. Todo fornecedor que busca clientes quer clientes que o ajudem a crescer.
Liderança servidora: é o terceiro princípio. O movimento de entrada na nova economia não é um movimento revolucionário. Esse é um movimento liderado por uma pessoa com um nível de consciência diferenciado, seja um líder de departamento, um empreendedor ou um CEO. A mudança neste caso vem de cima para baixo.
O último princípio é o da cultura responsável. A única coisa que não pode ser copiada de outra empresa é a sua cultura. Você pode copiar os canais de distribuição, estratégia de preços, contratar um funcionário do concorrente, mas, no final das contas, a forma que os stakeholders internos e externos se comportam em prol da sua marca ou da sua causa não pode ser comprada ou copiada. Isso é resultado de muitos anos de trabalho consistente e orientado para todos os stakeholders em prol de uma causa maior.
Imagine uma empresa cujos funcionários, fornecedores e clientes são tão apaixonados pela marca que a tatuam em seu próprio corpo. Mais interessante ainda, até os prospects se tatuam com a marca. Isso é um caso único no mundo – Harley Davidson! Essa é uma tribo tão apaixonada pelo seu produto e pela causa que causa certo medo das outras pessoas.
Nessa jornada por um capitalismo mais consciente e pela perenização das empresas, os conselheiros têm uma responsabilidade fundamental na mudança de rumos das empresas. Eles devem defender os interesses da empresa perante a sociedade e não apenas perante seus acionistas.
Devem se preocupar em entender o papel dessas empresas, seu propósito e a diferença que podem causar na sociedade, assegurando que as decisões estejam alinhadas a esse propósito, devem buscar criar valor para todos os stakeholders, devem assegurar que seus líderes em todos os níveis representem o interesse coletivo e estimular a criação de uma cultura consciente equilibrando o propósito com eficiência, valores com efetividade, inclusão e sucesso.
A sociedade como um todo está cada vez mais consciente dos desafios que temos e teremos. A grande parcela da população brasileira que subiu para a classe média e hoje, pelo desemprego está privada de muita coisa, tem um novo nível de consciência das instituições. Antes, vivendo de “bicos” e de trabalhos no mercado paralelo, não pagavam imposto. Uma vez inseridos na economia formal, através de um emprego, começaram a pagar impostos, e isso levou a um novo nível de consciência em relação ao governo e governantes. Antes, sem pagar impostos, não tinham expectativas sobre o serviço que deveria ser prestado pelo Estado; hoje, após ter imposto deduzido diretamente na fonte, eles têm uma expectativa de uma contrapartida do governo em troca dessa contribuição financeira obrigatória, chamada de imposto retido na fonte.
Todos os desafios que vivemos hoje, e aqueles que ainda estão por vir, podem ser resolvidos com a criatividade das pessoas reunidas em iniciativas privadas com o propósito de servir à humanidade. Não tenho dúvida de que, com a liberdade adequada e as garantias de propriedade, temos a oportunidade de resolver, se não todos, quase todos os problemas do mundo.
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