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A Resiliência das Empresas Familiares na Sociedade Consciente – Uma Visão


Mais de noventa porcento das empresas no Brasil são empresas de controle familiar, empresas estas muito peculiares nas quais os seus sócios, membros da família, não escolhem uns aos outros pois herdam um legado de seus ancestrais empreendedores.


Pesquisas mostram que apenas 3% das empresas familiares chegam à 4ª geração da família e mostram também que as mesmas são, via de regra, mais rentáveis e longevas do que as empresas de controle não familiar.


Quiz o destino que eu fizesse parte de uma família empresária, a família Mesquita proprietária, entre outros negócios, do Jornal O Estado de S. Paulo. O Estadão, para os íntimos.


Após ter trabalho nas empresas da família por alguns anos iniciei minha carreira independente, começando por trabalhar na empresa Natura Cosméticos como Diretor de Governança Corporativa e depois seguindo carreira como conselheiro profissional, consultor de governança e mentoria, sempre dando maior foco em empresas familiares e famílias empresárias.


Após muitas experiências no mundo das famílias empresárias criei algumas convicções, com certeza não verdades absolutas, que gostaria de compartilhar a seguir com você.

E por que as empresas familiares de sucesso tendem a ser mais longevas e rentáveis do que as empresas não familiares? Seguem algumas hipóteses.

Muitas empresas familiares desenvolvem, desde sua fundação, traços da cultura familiar que tendem a dar relevância maior às questões sociais. O desenvolvimento do negócio, os colaboradores são tratados como membros da família, as questões relacionais são sempre importantes no processo de decisão, o cliente também passa, de certa forma, a fazer parte da família.


A complexidade de uma empresa controlada por uma família passa pelo desafio de se navegar por três sistemas: os sistemas de governança familiar, societário e corporativo. Sistemas estes interdependentes e muitas vezes antagônicos onde as pessoas possuem papeis, ambições e expectativas nem sempre alinhados.


Apenas como exemplo rápido, enquanto do sistema familiar se espera buscar a harmonia da família, a realização pessoal de seus membros e a construção de um legado de valores, do sistema corporativo, ligado ao negócio, se espera a máxima geração de riqueza para seus públicos envolvidos e, cada vez mais, metas sociais e ambientais que contribuíam para um mundo melhor.


Cada sistema por ter propósitos distintos exige elementos distintos para bem desempenhar os seus papéis: estruturas, processos, regras, pessoas, cultura, comportamentos e capacitações específicas são necessárias. Um dos maiores desafios? Muitas vezes as mesmas pessoas atuam nos três sistemas exigindo flexibilidade de capacitações e comportamentos adequados a cada sistema. Primos que são também sócios e colegas na gestão; pais e filhos desempenhando também vários papeis. Cada vez mais até três gerações de membros da família atuando no sistema. Bem-vindo à realidade da família empresária!

Uma vez que a família e o negócio têm suas necessidades específicas, o antagonismo dos sistemas pode se exacerbar de forma crítica nos tempos de crise, podendo colocar em risco ambos os sistemas.


Independentemente da decisão tomada, um processo decisório colegiado tende a ser mais legítimo e gerar confiança e união das pessoas.


Conceitualmente, estamos falando em ajustar alguns elementos dos sistemas de decisão da família, da sua sociedade e de seus negócios. Podemos fazer ajustes nas estruturas da governança (conselhos e comitês), nos seus processos (reuniões), nas suas pessoas, nas suas crenças e comportamentos e principalmente na agenda da governança (o que é importante e crítico agora).


Seria um exemplo claro de um sistema evolutivo funcional, flexível e aberto, se ajustando às mudanças do ambiente externo e se adaptando para sobreviver em novos tempos.

As empresas familiares longevas costumam ter também em comum uma capacidade elevada de evolução dos seus sistemas de governança no tempo.


Cuidam bem da governança da família e alguns de seus processos críticos como os de sucessão, comunicação entre os membros da família, capacitação dos familiares, entre outros. Também conseguem evoluir os seus sistemas societários e de governança corporativa à medida em que a família cresce e a sociedade e os negócios tornam-se mais complexos, criando estruturas, processos, cultura e regras que maximizam a possibilidade de sucesso de cada membro da família, da família como um todo e também maximizam a probabilidade de perpetuação do seu negócio.

Cada família e empresa familiar tem a sua realidade e seus desafios, mas todas tem algumas características em comum: nasceram de um sonho de um empreendedor, possuem valores familiares fortes e peculiares, são parte extremamente relevante da sociedade contemporânea consciente.


Nesse sentido, cabe às famílias empresárias deixarem um legado moral para a sociedade, dando um exemplo de senso de responsabilidade, consciência, de solidariedade e de superação, atributos que sempre estiveram presentes no DNA empreendedor das famílias empresárias brasileiras.

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